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sábado, 10 de junho de 2006

POR FAVOR, OUVE AQUILO QUE EU NÃO DIGO


Não te deixes enganar por mim.
Não te deixes enganar pela cara que uso.
Porque eu uso uma máscara, mil máscaras,
máscaras que tenho medo de tirar,
e nenhuma delas sou eu.
Fingir é uma arte que , para mim, é a segunda
natureza,
mas não te deixes enganar.
Por amor de Deus, não te deixes enganar.
Dou-te a impressão de ser seguro,
de que para mim tudo é solarengo e risonho,
por dentro e por fora,
que a confiança é o meu nome e a calma o meu jogo,
que a água é calma e eu estou no comando,
e que não preciso de ninguém.
Mas não acredites em mim.
A minha superfície pode parecer suave,
mas é uma máscara,
sempre a mudar e a condizer.
Por baixo não há complacência.
Por baixo há confusão e medo e solidão.
Mas isso eu escondo. Não quero que ninguém saiba.

Entro em pânico quando penso na exposição
da minha fraqueza e do meu medo.
Por isso é que crio freneticamente as máscaras
atrás das quais me escondo,
uma farsa aliciante e sofisticada,
que me ajuda a fingir,
que me abriga do olhar que sabe.
Mas esse olhar é precisamente a minha salvação.
A minha única esperança e eu sei isso.
Isto, se for seguido de aceitação,
se for seguido de amor.
É a única coisaque pode libertar-me de mim mesmo,
das paredes da prisão que eu próprio construí,
das grades que ergo com tanta dor.
é a única coisa que pode assegurar-me,
de que valho alguma coisa,
Mas não te digo isto.Não me atrevo. Tenho medo.
Receio que o teu olhar não seja seguido de aceitação,
não seja seguido de amor.
Receio que penses mal de mim, que te rias,
e o teu riso matar-me-ia.
Receio de, no fundo, eu não ser nada, de não prestar,
e que vejas isso e que me rejeites.

Por isso, jogo o meu jogo desesperado de fingir,
com uma fachada de segurança por fora
e uma criança que treme por dentro.
E assim começa um desfile de máscaras brilhante ,
mas vazio,
e a minha vida torna-se frontal.
Tagarelo contigo nos tons suaves das conversas fúteis.
digo-te tudo que não é mesmo nada,
e nada daquilo que é tudo,
daquilo que chora dentro de mim.
Assim, enquanto atravessio a minha rotina,
não te deixes enganar pelas coisas que digo.
Por favor escuta cuidadosamente e tenta ouvir
aquilo que não digo,
aquilo que gostaria de ser capaz de dizer,
aquilo que preciso de dizer para sobreviver,
mas que não posso dizer.

Não gosto de me esconder.
Não gosto de jogar jogos falsos e superficiais.
Quero parar de os jogar.
Quero ser genuíno e espontâneo e ser eu,
mas tens de me ajudar.
Tens de esticar a tua mão
mesmo que te pareça que isso é a última coisa que eu quero.
Só tu podes limpar-me dos olhos
o olhar vazio dos mortos-vivos.
Só tu podes chamar-me à vida.
Cada vez que és simpático e amável e me encorajas,
cada vez que tentas compreender porque te preocupas a sério,
no meu coração nascem asas,
asas muito pequenas,
asas muito fracas,
mas asas !
Com o poder que tens de me tocar os sentimentos
Podes bafejar-me de vida.
Quero que saibas isso.
Quero que saibas o quão importante és para mim,
Como consegues ser um Criador- um Criador tão honesto como Deus-
da pessoa que sou eu.
Só tu podes derrubar o muro atrás do qual tremo
Só tu podes remover a minha máscara,
Só tu podes libertar-me do meu mundo sombrio de
pânico e incerteza, da minha prisão solitária,
se escolheres fazê-lo.
Por favor fá-lo. não me deixes para trás.
Não será fácil para ti.

Uma longa convicção de falta de valor ergue muros fortes.
Quanto mais te aproximas de mim,
mas eu posso recuar.
É irracional, mas apesar daquilo que os livros dizem
a respeito dos homens,
eu sou frequentemente irracional.
Luto contra aquilo por que luto.
Mas dizem-me que o amor é mais forte que os muros fortes,
e é aí que reside a minha esperança.
Por favor, tenta combater esses muros
com mãos firmes
mas com mãos suaves
porque uma criança é muito sensível.

Quem sou eu, perguntas tu?
Sou alguém que conheces muito bem.
Porque eu sou cada homem que conheces
e cada mulher que conheces.

( Charles C. Finn -no livro Curar a Criança Interior de Charles Whitfield )

8 comentários:

Anónimo disse...

menininha, que bonito...! Que lindo poema, ou conversa ou confissão que trouxeste hoje aqui! Que reverbere por todas as montanhas distraídas, vales dispersos e mares esquecidos.... e todos os homens e mulheres saibam com que palavras se expressa a alma...beijinho

Anónimo disse...

Não podia haver melhores palavras...sou isto exactamente!
Lido é pior ainda o sentimento que invade.
Inês

Amaral disse...

Com atenção, li e senti todas as dúvidas, todos os receios, toda a esperança que o texto encerra. Cada jogo, ilusão das ilusões, fachada de segurança, trémula criança por dentro… Quem sou eu?... Como consegues ser um Criador?... Só tu podes remover a minha máscara... Jogo prisioneiro, falso ou superficial, mas um jogo que a ilusão torna realidade, abafada por pensamentos intermináveis de dúvidas atrozes...

Cláudia disse...

É mesmo assim... As tuas palavras descrevem tudo.E com estas palavras se expressa a alma...

Cláudia disse...

O sentimento que te invadiu, foi o mesmo que invadiu o meu Ser, esse Ser frágil, que habita em todos nós, e que é muito sensível.Espero que tenhas abraçado a criança que habita em ti,e que com isso, tenhas sido inavadida pelo Amor...Um grande beijinho para ti Inês.

Cláudia disse...

Pois é amaral, sempre tão atento com o teu olhar que ri.Esse olhar que com certeza já removeu tantas dúvidas e tantas máscaras...Este texto não deixa ninguém indiferente.Todos diferentes todos iguais...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
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